sexta-feira, 25 de abril de 2014

Lixo mental

Eu passo a maior parte do tempo pensado no que eu gostaria de estar fazendo mas com uma enorme preguiça de fazer o que realmente tenho vontade. Sentindo que o ambiente externo está desorganizado demais para que o ambiente interno consiga se organizar e parar para fazer o que quero. Então, passo a outra maior parte do tempo pensando que devo organizar as coisas. Arrumo o quarto, apago luz, acendo luz, tiro o lixo, lavo louça, puxo a água da pia com o rodo meticulosamente... Varias vezes ao dia, até ficar completamente seco... Para logo mais estar molhada de novo. Ponho roupa na máquina, tiro roupa da máquina, estendo, retiro as secas, guardo as secas. Rearrumo a colcha da cama, ordeno os livros, pego um, leio, outro, outro, uma revista, escrevo, rabisco, me incomoda a bagunça dos papeis, reorganizo. Acendo um cigarro. Volto a pensar no projeto que eu realmente gostaria de estar fazendo. Volto a arrumação, varro alguma coisa, sempre falta outra coisa. O lixo já se encheu mais uma vez. Cozinho... Não há solução, é preciso cozinhar. Coloco um vídeo para passar, esvazio a cabeça no whatsapp... De minuto em minuto. Fico repetindo mentalmente conversas, continuações de conversas, reflexões sobre a conversa. Lixo mental. Não consigo retirar o lixo mental. Invento histórias, me martirizo por não ter força de vontade suficiente para coloca-las no papel. Escrevo besteiras por impulso pois são mais fáceis e ajudam a transbordar a energia. Saio para ir ao supermercado. Tenho que pagar contas, preguiça. Falta de vontade de interagir, de sair, de agir. Me sinto cansada. Paro, olho a janela, acendo outro cigarro, me sinto mal. Tomo banho, lavo os cabelos para me livrar do cheiro, me entedio, me deprimo, me sinto cansada. Falta de ar. Falta ar. Durmo. Em outros dias faço apenas o que devo fazer. O dia todo fora de casa, não há muito espaço para pensar, não me deprimo, reflito brevemente que quando tudo estiver calmo e organizado pensarei na vida. Não sobra tempo.
A vida vai passando e eu não vou sendo.

Um comentário:

  1. Me martirizo incansavelmente por tudo aquilo que, penso, deveria estar fazendo quando na verdade estou ao mesmo tempo que me punindo, protelando o que ha de ser feito agora. Tudo isso, penso, por medo do futuro. Penso que talvez medo de me transformar nos meus pais.
    E quando vejo, pensei, pensei, pensei, mas não fiz nada. Esses dias pensar tem me deixado tão exausta que não me sobra energia pra mais nada.

    ResponderExcluir