sábado, 28 de julho de 2012



Havia nascido com uma deformação no corpo. Olhava-se no espelho e se perguntava, se de alguma coisa adiantaria que tivesse sempre os olhos brilhantes de alegria, que soubesse escrever poesias e cantasse. Será que os garotos que viam apenas seu corpo torto quando passava na rua, podiam imaginar que ela também abria a janela e ficava um longo tempo  encarando a noite escura, com suas musicas preferidas ao fundo, imaginando como seria ser livre? Tem dias que a vida pode ser bem triste. Muito já havia pensado sobre a solidão, sobre as estrelas e sobre o amor. De algo adiantaria dizer que só desejava ser feliz? Ela não sabia como é ser de outra forma e até pensava que não era de todo mal, mas faria alguma diferença que soubessem?... Quando era mais nova passava dias trancada em seu quarto sombrio, porque sombrio era o seu espírito. Cansada, começou plantar girassóis no parapeito, a pintar quadros coloridos, aprendeu a cozinhar e a costurar, tinha as mão leves e os ouvidos pacientes. Via-se no mesmo espelho de sempre mas ainda sim, perfumava-se. De algo adiantaria?
Ela esperava e se preparava para ser uma grande mulher ao homem que tocaria seu corpo retorcido para beijar sua alma... Mas algumas vezes suspeitava que, talvez esse dia nunca chegasse. Nesses momentos era preciso ser muito forte...

- Lia Saboia

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