terça-feira, 29 de junho de 2010

Trabalho de literatura dramática.

Nelson Rodrigues é o meu Dramaturgo preferido. E essa resposta vem Rápida, sem titubear, quando por algum motivo sou levada a falar em favoritismo. Minha paixão por Nelson começou a tempos, quando meu pai, enfim, aceitando que eu seria atriz, abriu meus olhos à importância de ter conhecimento e se determinou ele próprio a ser meu primeiro mestre. Sempre instigando, mostrando-me o mundo e alimentando minha mente. O segundo livro que ele me deu de teatro foi "Perdoa-me por me traíres" de Nelson Rodrigues, o primeiro havia sido a "construção da personagem" de Stanislavski. "Juju, veja esta do nosso Anjo Pornográfico", meu pai me disse ao me entregar "perdoa-me", bem como está escrito em sua dedicatória na primeira página do livro. Logo, às primeiras palavras, eu soube que ali se encontrava mais do que um grande dramaturgo do nosso país, mas sim, um escritor especial, único, peculiar. Fiquei encantada com a sua forma de escrever sobre o humano, e cru. Sempre dediquei um afeto especial ao que é feio, podre, errado,excêntrico, na direção contraria e principalmente passional. De modo que Nelson me tocou profundamente a alma. Este Sábado, tive a oportunidade de ver Nelson Rodrigues montado pela primeiras vez. Não sem uma pequena dose de desapontamento. Eu esperava mais, muito mais. Esperava sentir o ardor arrebatado que sentia enquanto lia. Alguns trabalhos são Ruins, por erro da direção,por erro do autor, por falta de dedicação dos atores, problemas técnicos, entre outros. "Perdoa-me por me traíres" de Claudio Handrey, não comete nem um desses pecados. Pelo contrario, tem-se um trabalho admirável. Mas não me agradou. Penso que se não gostei foi por preferências minha. A peça tem uma proposta bem clara; a linguagem expressionista levada à máxima. Juntamente com os princípios de afastamento de Brecht. No entanto o excesso de experimentação acabou por tirar a força da obra. Sendo Nelson Rodrigues um artista que se utiliza de uma estética bastante expressionista, o exagero dela agiu com efeito contrario. Me deixando distraída e por vezes entediada. Já o afastamento de Brecht, cismando em interromper qualquer ligação mais intensa, dando muitas vezes um caráter cômico à cena; me parece ir de encontro a proposta de Nelson de incomodar profundamente. Me pergunto se essa iniciativa do diretor foi um ato de delicadeza com o expectador ou uma tentativa didática exemplificada. Em direção contraria à má impressão vinham os atores, com um trabalho primoroso, onde se percebe a dedicação, esforço e entrega completa. Sem pudor os atores vão fundo na intensidade dramática exigidas pelas suas personagens, segurando com propriedade a proposta. Esteticamente o espetáculo é belo. Cheio de um simbolismo bem pensado. Os elementos de cena são funcionais e versáteis, coerente à ideia expressionista. Complementados com iluminação e sonoplastia dramáticos, funcionam bem, realçando o trabalho dos atores e dando um bonito efeito plástico à peça. Ao final do espetáculo "Glorinha" arranca as roupas e sacode os seios nús, sem mais porquês. Em 1957 o pelo , seria transgressor, inflamaria uma plateia horrorizada. Hoje, passou por banal, arrancando comentários impressionados de "Quão belos eram os seios da atríz", nada mais. PS:. Não gosto de fazer críticas pois não me considero com conhecimento suficiente para tanto, e entendo o quanto é relativo tudo isso, as preferências vem de lá sei onde e variam de mim para ti. Além do mais sou artista também e atriz. Sei do esforço que é, dos fracassos que se dá e de como ficamos vulneráveis. Meu professor Fernando Bohrer, repassa para agente uma frase ensinada por Yan Michalski. "Qualquer trabalho é digno de respeito, qualquer iniciativa de se fazer algo é louvável, se o ator teve a coragem de apenas subir ao palco, então já é valido pela coragem" De qualquer forma, é bem divertido criticar (haha) e eu não sei se me sentir má pela crítica ao envergonhada pelos pontos que gostei, após ler a crítica de Barbara Heliodora, mas com certeza me sentir super boazinha, comparada a ela.

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